quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

there neath the covers

eu preciso de mais força de vontade para não tomar um drink do que você precisa para tomar. mas às vezes eu apenas acordo com menos energia ou menos vontade de sustentar vontades que não são as minhas. mesmo que isso possa ter resultados inesperados. mas o que não tem, afinal? quem ainda acredita que a vida tem alguma lógica? a ordem é sempre o evento menos provável de acontecer. é menos provável do que decidir abandonar a si mesmo enquanto se escova os dentes. mas milagres sempre acontecem. eles acontecem toda a noite que tomamos um taxi e decidimos voltar juntos para casa. mesmo que isso signifique terminar a noite comendo algo frio na cozinha quente, tentando satisfazer com carboidratos as necessidades não satisfeitas de mais uma noite de solidão. noites de solidão são inevitáveis quando sorrisos e lágrimas viram nossa moeda. quando acreditamos que não há um plano possível de distribuição equitativa de prazeres e sofrimentos. a crueldade das injustiças que jamais se renderão às medições estatísticas. sensibilidades recessivas sofrendo em silêncio nessa noite fria. o aquecedor do meu quarto não funciona direito e eu quero ficar com você. e essa é só a justaposição um pouco trágica, mas também um pouco irônica de sentimentos que habitam o meu corpo no momento em que eu me encolho, abraço endogenamente as minhas próprias pernas e tento me afundar no calor artificial dos cobertores. não tem nada de especial nisso, nem de errado, nem de triste. é só a vida entrando fria pelas narinas e expandindo com força os meus pulmões. é só a vida provando que depende de movimentos involuntários. sincrônicos, porém pouco controláveis. é só mais uma noite na vida de quem um dia entendeu que não dá para distribuir o prazer equitativamente durante as nossas horas, nossos dias, nossos anos. nenhum plano vai nos garantir receber uma quantidade constante de calor ou bem estar. isso seria apenas uma espécie de aposentadoria emocional. uma estratégia enganadora de estabilidade ou segurança ou uma troca perversa: você não vai ter momentos de prazer ou felicidade intensos, mas também não terá momentos de tristeza profunda. como se nossos sentimentos ou estados anímicos funcionassem como uma bomba hidráulica de baixa complexidade: quanto maior o nível de um, menor o de outro, proporcionalmente. quanto mais bem distribuídas as suas emoções, você poderá ter uma vida aristotelicamente mediana. felicidade e tristeza em tons pastéis. mild, como dizem em alemão. não, obrigada. estou ok com os meus cobertores por enquanto. além do mais, eu estou quase certa de que isso não funciona. e quando vc perceber isso, talvez você tenha tempo e vitalidade para remediar ter vivido uma vida simplesmente confortável. mas talvez o seu corpo não aguente mais. talvez você simplesmente não esteja mais. nunca saberemos. por isso, eu acho esse um jogo arriscado demais. hoje de manhã eu acordei antes do despertador tocar. e enquanto eu preparava o meu café marianne faithful começou a cantar the ballad of lucy jordan na rádio da cozinha. at the age of 37 she realized she'd never ride through Paris in a sport car with the warm wind in her hair. so she let the phone keep ringing, as she sat there softly singing pretty nursery rhymes she'd memorized in her daddy's easy chair. marianne faithfull apareceu naquela naquela hora improvável da manhã para dizer que há muitos jeitos de se passar o dia. que você pode limpar a casa por horas ou arrumar as flores. ou correr pelada pela rua, gritando pelo caminho. no meio daquele programa matinal de notícias, ela só dizia com uma voz calma de quem também já enfrentou noites tristes que não podemos esperar até os 37 para perceber que não devemos arriscar nossas vidas, por medo de viver. e enquanto ela me dizia isso, eu me encostei na janela ao lado do aquecedor. o meu pé quentinho e eu esperando o leite ferver. me sentindo feliz ao acompanhar a beleza dos flocos de neve flutuando pelo ar. mesmo que a noite tenha sido fria. mesmo que eles derretam antes de chegar ao chão.

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